quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Políticas Públicas, Futebol e Atlético

Abro espaço em minha coluna semanal para o Professor Bira. Discutimos (no bom sentido, sempre) via twitter sobre o assunto abaixo, então o convidei para escrever e ele atendeu!! Espero que apreciem como o texto merece! 

Por Professor Ubiratan Francisco de Oliveira (Prof. Bira)

Um clube de futebol cercado de parlamentares dos três níveis do poder legislativo (Municipal, Estadual e Federal) e no qual seu atual presidente já esteve presente em vários mandatos executivos, tanto estadual como municipal, é inadmissível que ainda ouvimos tanto seus dirigentes falarem em “ajuda do poder público”. Mas como que essa ajuda pode ir para o Atlético Clube Goianiense? Se fala muito em Marketing, pois o Atlético divulga o nome do Estado de Goiás e de Goiânia, mas isso basta? Esses parlamentares como seus papéis de “fiscalizadores” dos cofres públicos ainda não se atentaram para os grandes gastos públicos com publicidade exagerada?

Pegue um jornal escrito da capital e veremos um grande “panfleto” do Governo do Estado, a cada duas páginas uma propaganda pública. E olhe que é caro viu? Tente você, pequeno mortal, a anunciar uma frase nesses jornais e verá o que quer dizer a expressão: “os olhos da cara”. Tudo bem, se há dotação orçamentária para propaganda, por que não então anunciar na camisa do Dragão, ou no estádio, ou em uma de suas áreas pertencentes à sua estrutura?

O Marketing estatal não é uma novidade no futebol, afinal todos se lembram da recente marca estatal da Petrobrás que é parceira antiga do time da Gávea no Rio de Janeiro, agora, como se não bastasse, a Eletrobrás, também patrocina um dos rivais do rubro negro carioca. A CELG, antes de seus escandalosos balancetes endividados, também deu sua ajudinha aos clubes goianos. O Itumbiara Esporte Clube chega a se confundir com uma instituição do poder público municipal daquela cidade.

Nessa semana veio à tona a notícia de que a Prefeitura de Aparecida de Goiânia solicitou a reintegração de posse da área que foi cedida ao clube em 1976 para que o Atlético construísse ali uma de suas bases de trabalho. Não é novidade também a doação de área pública para os clubes de futebol. Todos eles receberam ou áreas ou patrocínio vindo de recursos ou do patrimônio público de Goiânia ou do Estado de Goiás. Isso pode haver ou não problema do ponto de vista ético e político. Afinal, os clubes como entidades privadas, mas de interesse público, por se tratar de entidades culturais, navegam entre o público e o privado de acordo com suas conveniências.

Sou apaixonado por futebol, mas não posso ser um alienado pelo futebol. Cada coisa em seu devido lugar. Não podemos ser a favor desse projeto de Copa do Mundo que vai investir milhões e, até, bilhões de reais em estádios privados que servirão a clubes de futebol que não apresentaram nenhuma contrapartida social. Eis a chave da questão: CONTRAPARTIDA SOCIAL, ou seja, o que a sociedade ganha com isso? Afinal de contas investir no futebol tendo creches, hospitais, escolas e universidades caindo aos pedaços é, no mínimo, uma incoerência administrativa das grandes por parte dos poderes públicos.

Por outro lado, sabemos também que a referia área está no centro de uma vasta região de especulação imobiliária e que esta especulação vem detonando com a qualidade de vida de Goiânia e cidades vizinhas, dentre elas, Aparecida de Goiânia. Nesse sentido, é bem melhor que esta área seja do Atlético Clube Goianiense, pois sua própria destinação para o esporte já lhe garante uma enorme Contrapartida Social. Afinal, garante um meio ambiente mais equilibrado que possa carregar o lençol freático de recursos hídricos e um bom clima para a região. Portanto, não estou defendendo aqui que os poderes públicos de Goiânia e Aparecida de Goiânia tomem de volta as áreas que doaram para os clubes goianos e nem que deixem de investir nos mesmos, se é que se investe. Mas que passam a exigir a contrapartida social dos mesmos para nossa sociedade. Quantas escolinhas deles são destinadas às crianças pobres da Região Metropolitana? Quantas vezes suas áreas são destinadas às atividades culturais ou esportivas para nossas escolas municipais e estaduais? Quantas crianças são levadas gratuitamente ao Serra Dourada em dias de jogo? Todo investimento público em entidades de interesse público como ONGs, OCIPs e Clubes de Futebol podem ser bem aplicados quando definidas, de forma bem clara, quais serão suas ações sociais para nossa sociedade. O Atlético pode ser o elo entre o Poder Público e as Empresas Investidoras na tão sonhada PPP (Parceria Público Privado) para o desenvolvimento do país que dificilmente sai do papel. A contrapartida pode vir de possíveis investidores do clube que querem vincular suas marcas à responsabilidade social.

O Atlético tem tudo para ser um bom receptor de recursos públicos. A área do Buriti Sereno, em Aparecida pode oferecer esporte e lazer para milhares de crianças e adolescentes que freqüentam  as salas de aulas das pobres escolas da região que utilizam de chão batido para fazer educação física. Pode também, revelar grandes talentos para o próprio clube e depois render grandes dividendos por este investimento. No campo cultural, o Atlético pode se usufruir de sua territorialidade campineira. Campinas, o “Berço Cultural de Goiânia”. De tantos artistas e escritores. Dos centros culturais de dança, música e teatro. Campinas dos escritores José Mendonça Teles, Bariani Ortence, Brasigóis Felício, Horieste Gomes. Dos cantores Marcos Antônio e Marcelo Barra. Da professora Maria Leila Marques, dos Maestros Lanza e Paulista das Bandas Marciais dos Colégios Castello Branco e Pedro Gomes, respectivamente.

Imaginem um projeto para um Grande Centro Cultural em Campinas junto ao Complexo Acciolly? Com sala para eventos culturais e exposição dos troféus, de fotografias, de quadros e de objetos daqueles que fazem parte da história de Campinas e do Atlético. Uma área que recupere o busto do Antônio Accioly em local que ele mereça, um espaço para os instrumentos ou replica dos instrumentos e da bandeira do “Respeita as Cores”, (Seu Maurício) e um outro para a réplica do badalado “Carrinho de Carregar Papel” do Divino Donizete, expostos ali  mostrando não apenas a história desse clube, mas da Campininha e de Goiânia. Precisa de Contrapartida melhor do que essa que o clube rubro-negro pode oferecer? Temos que passar olhar o Atlético como Patrimônio Cultural.

Sei que não é fácil e exige um bom exercício daqueles que estão à frente e à volta do Atlético, porém, como disse no início, é hora de colocar esses parlamentares para trabalhar em prol do Atlético, pois tirar fotos com dirigentes e falar que é atleticano nos momentos bons é muito fácil. Por outro lado, é importante que a diretoria entenda que recursos públicos não podem ser aplicados sem que haja CONTRAPARTIDA SOCIAL. É bom para o Estado, para a Sociedade e para o Clube, afinal, depois ninguém poderá dizer que o Atlético se ergueu à custa das mazelas dos serviços públicos oferecidos à sociedade. É preciso mais que projetos, é Preciso Planejamento Estratégico. Tenho certeza que muitos poderão ajudar na construção desses projetos, basta ter abertura para isso.

3 comentários:

  1. Devemos mencionar tbm o milionario patrocinio ao Rally dos Sertões.
    Sob a desculpa de divulgar o Estado.
    Quem divulga mais? Estes degradadores de meio ambiente ou os 3 times de Goiania?

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  2. Mais um belo texto do Bira!

    Como sempre consciente e inteligente!

    Parabéns pelas palavras, e que elas cheguem aos olhos de quem possa aproveitá-las melhor.

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  3. Acompanhei esse debate entre vcs no TT e incentivei o Professor a escrever a respeito.
    Parabéns, Bira, pelas sugestões pertinentes, com destaque para a contrapartida social.
    Tudo que queremos é o retorno à população dos investimentos feitos com recursos públicos!
    Parabéns também aos amigos do Buteco, por democratizarem este espaço!

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